*Por Waldemar José Solha
“::: e agora, Vasco, Pero Vaz de Caminha? a quantas anda nosso Caminho das Índias?”
“::: e agora, Vasco, Pero Vaz de Caminha? a quantas anda nosso Caminho das Índias?”
Essa
é a pergunta que se lê neste livro e que também me faço, ao terminar de lê-lo.
O
SAL DO LEVIATÃ é muito
estranho. Senti-me, diante deste novo lançamento de Guarnieri, como alguém do
círculo mais próximo de Picasso ao ser um dos primeiros a ver, em 1906, o LesDemoiselles
d´Avignon, no qual se saca de imediato que, em meio à criação da tela,
sem a mais mínima preocupação com a famosa e sempre exigida unidade, o espanhol
mudara duas vezes de estilo. A primeira, ao introduzir naquele espaço, algo
como uma página do Tratado Elementar sobre a Geometria das Quatro Dimensões, de
EspritJouffret – em cima das visões de Poincaré que tinham virado a cabeça de
Einstein. A segunda, ao transformar as caras das moças nuas d´Avignon em
máscaras africanas, atônito com o que acabara de ver numa exposição delas, em
Paris.
Assim,
Guarnieri faz a abertura de seu livro com um estilo que me lembra muito a
pintura de Ivan Albright e sua temática macabra - cores mórbidas, meticuloso
estilo tipo realismo fantástico, em que cada detalhe tem enorme destaque, como
quem quer que se veja tudo ao mesmo tempo, do macro ao micro e, de um fôlego,
num curto período, vemos, com poesia de alta voltagem, “um engenho de
espelhos”, “câmaras do horizonte, iluminadas”, “minério aberto, puro, casto:
flor de cálcio”, “lágrimas na zona fronteiriça entre os alumínios do azul e a
amarelidão molhada da areia fina”, “navalhas da erosão”, etc. Allright: Albright.
Mas
eis que na página 34 “o clima declina em crise física (toda altura é esta
estranha úlcera convulsa como se fosse ininterrupta a pintura de William
Turner)”. Pois bem, Turner. E aí se dá que na página seguinte, damos com outro
Guarnieri. Que se pergunta:
“:::
e agora, Vasco, Pero Vaz de Caminha? a quantas anda nosso Caminho das Índias?”
É
a questão que também me faço, ante esse novo Guarnieri, que tem a força daquele
sermão de Orson Welles no Moby Dick de John Huston.
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O Sal do Leviatã será lançado este ano e sairá pela Editora Penalux.
Alexandre Guarnieri (carioca de 1974) é poeta,
historiador da arte (UERJ) e mestre em tecnologia da imagem (ECO-UFRJ). É um
dos editores da revista eletrônica Mallarmargens. Lançou Casa das Máquinas
(2011), Corpo de Festim (2014), livro ganhador do 57o Jabuti (categoria poesia)
e Gravidade Zero (2016).
*Waldemar
José Solha (1941) é escritor, ator e artista plástico.
Parabéns será mais um sucesso !!!!
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