Em
A
Serenidade do Zero (Penalux, 2018), Alexandra
Vieira de Almeida constrói um surpreendente e pressuroso apelo: precisamos
voltar ao zero, ao nada.
Para
além das resignificâncias do habitual, verve pictórica, quase épica de seus
poemas, há neste livro uma gama de signos que não podem ser comentados pela
mera via das convenções literárias, estilísticas e de linearidade lógica. Ao
invés de respostas morais, acalanto poético pela via do belo (e olha que ela
utiliza muito bem seu lirismo, digno de um Bruno Schulz ou uma Adélia Prado),
ou a inscrição de perguntas filosóficas meio tachadas, como vemos muito por aí,
Alexandra nos dá simplesmente o zero para lidarmos.
O
zero da autora é uma espécie de faca que vai, ao longo do livro, cortando
absolutamente tudo que é consenso, libertando a língua da relação simbiótica
que hoje ela tem com a razão, como podemos notar no trecho do poema Silêncio
(pág. 19): “O marasmo das palavras/faz
acordar preces/sem um único som”.
Apesar
de lidar com o silêncio, o “menor que o pouco” e todo esse relicário de
subtrações, a poesia de Alexandra é abundante, deixando a impressão de que cada
poema é, na verdade, vários ao mesmo tempo, carregando a cada estrofe e verso
uma infinidade de imagens, apontando que sim, há muito que se dizer sobre o
nada e a brevidade poética, neste caso e antes de tudo, seria, no mínimo,
redundante.
Alexandra
é profética, quase apocalíptica. Contudo, ao escrever em A Delicadeza do Silêncio
(pág. 32), “O mundo já deu o que tinha de
dar”, não faz disto uma ode a pura destruição, mas uma bandeira do
antiperfeccionismo, do “homem do outro lado da rua/cúmplice de uma história sem
grandes finais”.
Por
tudo isso, quando ela escreve “não quero
ser o centro nem a periferia/o vazio me basta” em Sem Histórias, Por Favor
(pág. 46), não está, dessa maneira, assumindo uma postura “isenta” em relação a
sociedade, ao contrário, a poeta se desloca para o núcleo das coisas, onde
reside o inaudito. Essa última frase citada, inclusive, me lembrou muito uma
contida num dos poemas de Adélia Prado, que diz: “Não quero faca nem queijo/quero a fome”. Essa “fome”, essa “falta”
que é o “antes” é a tônica crítica e poética deste belo livro.
Os
astrônomos dizem que depois da Grande Explosão, o universo começou a se
expandir e não parou mais. Em A Serenidade do Zero, Alexandra
propõe o contrário: um Big-Bang
invertido em meio a um caos harmonizado regido pela arte, e, encarnando a voz
de um menino que conversa com Deus em Gênese do Nada (pág. 69),
sacramenta: “A poesia/vem antes da
palavra”.
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Alexandra Vieira de Almeida é poeta, contida, cronista, resenhista e
ensaísta. É Doutora em Literatura Comparada pela UERJ. Trabalha como professora
na Secretaria de Estado de Educação e tutora de ensino superior a
distância na UFF. Publicou quatro livros de poesia: "40 poemas",
"Painel" (Multifoco, 2011), "Oferta" (Scortecci, 2014) e
"Dormindo no verbo" (Penalux, 2016). Neste ano, publicou seu primeiro
livro infantil, "Xandrinha em: o jardim aberto" (Penalux).Publica
suas poesias em antologias, revistas, jornais e alternativos por todo Brasil e
também no exterior. Tem poemas traduzidos para vários idiomas. Tem um blog de
literatura: www.malabarismospoeticos.blogspot.com.br
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Thiago
Scarlata é poeta, músico, escritor e criador/editor do Blog Literário Croqui. Teve poemas
traduzidos para o espanhol, publicados em antologias e também nas Revistas Gueto,
Escamandro,
Mallarmagens,
Monolito,
Janelas
em Rotação, Poesia Brasileira Hoje, Poesia Avulsa, MOTUS, Jornal RelevO, Literatura&Fechadura,
além de blogs literários. Foi finalista do PRÊMIO SESC DE LITERATURA 2016 e JAYME
ROLDON 2011, e vencedor do CONCURSO MOTUS – MOVIMENTO LITERÁRIO DIGITAL 2017. É autor
do livro de poesia “Quando
Não Olhamos o Relógio, Ele Faz o Que Quer Com o Tempo” (Editora Multifoco, 2017). croquiliteratura@gmail.com
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